A origem da guerra ao tabaco, por Richard White
Este artigo foi escrito por Richard White, publicado originalmente como prefácio para o seu livro “Smoke Screens: The Truth About Tobacco”.
Até a década de 1950, quase ninguém havia insinuado que fumar fosse prejudicial, muito menos que fosse mortal. Médicos até recomendavam o uso do tabaco; o médico da minha avó, aliás, sugeriu-lhe que fumasse durante a gravidez, para controlar o apetite. Há vídeos no YouTube de antigas propagandas de cigarros nas quais médicos recomendavam o ato de fumar – em um comercial da marca Camel, há médicos falando de sua preferência pela marca¹. Fumar não apenas era aceito socialmente, como também era a norma; quase todo mundo fumava. Uma olhada nos clássicos de Hollywood vai mostrar o quão ilustre era fumar naquela época. Além disso, fumar era visto como algo classudo e elegante – quem pode esquecer da clássica foto de Audrey Hepburn com sua longa piteira de cigarro? Até há algum tempo, era comum na Europa que as pessoas oferecessem cigarros e cinzeiros a suas visitas. O tabaco era tão enraizado na sociedade que, quando surgiu a idéia de que ele poderia ser nocivo à saúde, grande parte dos médicos e, também, civis julgaram-na absurda.
O primeiro estudo afirmando que o tabagismo estava relacionado ao câncer de pulmão foi feito em 1912 pelo Dr. Isaac Adler, que usou uma monografia para demonstrar essa relação. Em 1928 também houveram estudos na Alemanha com a mesma pretensão, embora a primeira evidência estatística formal tenha sido apresentada somente em 1929 por Fritz Lickint, de Dresden. Este estudo estava longe de ser conclusivo, pois a tal ligação foi “descoberta” apenas pelo fato de que os homens fumavam mais do que as mulheres, e também tinham uma incidência de câncer de pulmão maior do que as mulheres. Os estudos alemães seguintes serão analisados no subcapítulo “A Descoberta Nazista do Tabagismo e Câncer” *.
Não obstante as tentativas anteriores de demonizar o tabaco, a percepção pública sobre o tabagismo mudou. O estudo usado no auge do atual movimento antitabagista foi feito por Sir Richard Doll.
Doll foi uma das mais eminentes figuras do movimento antitabagista. Depois da publicação do seu primeiro estudo, em 1950, tornou-se muito ativo em seus discursos contra o tabagismo. A organização Cancer Research UK declarou: “Os estudos do médico britânico têm colaborado muito para o nosso conhecimento sobre os perigos do tabaco”². Em junho de 2004, Doll deu-lhe seguimento com a publicação de um estudo epidemiológico de cinqüenta anos. Pesquisas nos mostram que muito dos atuais números e estatísticas sobre os perigos do tabagismo advêm do estudo em questão, que é considerado o Santo Graal dos estudos sobre o fumo e, no que consta ao movimento de Controle ao Tabaco, ainda não foi superado. Ao analisá-lo em detalhes, o leitor provavelmente questionará a validade dos números e afirmações subseqüentes.
O estudo incitou várias mudanças: um número cada vez maior de estudos começou a imergir, mostrando uma correlação entre fumar e câncer de pulmão, e depois outros que relacionavam o fumo com enfisema pulmonar e doença do coração. Hoje em dia, não há uma semana sequer em que não surja uma nova revelação antitabagista, ao ponto de termos sido informados de que fumar causa uma variedade de cânceres, inclusive de intestino, de pâncreas e bexiga, bem como impotência, o envelhecimento da pele, acne e até mesmo cegueira! Nós somos continuamente avisados de que o fumo passivo é responsável por milhares de mortes todos os anos.
O que começou como algo razoável – que levar fumaça para os pulmões poderia causar câncer de pulmão – agora parece algo extremamente diferente: nunca antes houve tamanho ataque a qualquer substância (excetuando, talvez, o álcool na década de 20), apesar dos perigos bem conhecidos e documentados de vários produtos químicos das nossas compras diárias. Nenhuma outra substância foi tão perseguida, e suas evidências para tanto, embora cada vez mais abundantes, têm se tornado cada vez mais absurdas. Em 2007, o Reino Unido implementou uma nova proibição antitabagista: agora está proibido fumar em qualquer ambiente fechado, incluindo pubs, clubes e até mesmo plataformas abertas sobre trilhos.
A primeira coisa que as pessoas perguntam é: “Como proibir o ato de fumar beneficiará o governo?”. É uma boa pergunta, e a resposta é ao mesmo tempo óbvia e surpreendente: dinheiro. Grupos antitabagistas, como o Action on Smoking and Health (Ação sobre Tabagismo e Saúde), o ASH, recebem fundos pelo seu trabalho, enquanto o Fight Ordinances and Restrictions to Control and Eliminate Smoking (Combate às Ordens e Restrições de Controle e Eliminação do Ato de Fumar), o FORCES, não recebe fundos. Além disso, os fundos para o ASH e outros grupos similares vêm, em parte, do Departamento de Saúde. O Freedom Organisation of the Right To Enjoy Smoking Tobbaco (Organização da Liberdade do Direito de Fumar Tabaco), o FOREST, por outro lado, é um dos poucos grupos pró-tabagistas, senão o único, a receber fundos, e estes vêm da própria indústria tabagista. O governo, portanto, se alinhou a um lado, em vez de permanecer imparcial.
O estudo de Doll mencionado acima foi financiado pelo Conselho de Pesquisa Médica, pelo Cancer Research UK e pela Fundação Britânica do Coração³, e a campanha “Tabaco é Veneno” foi financiada pelo Departamento de Saúde⁴. O Suing Big Tobacco foi, ao mesmo tempo, muito recompensador – financeiramente falando. A campanha antitabagista permitiu aos membros do governo aumentarem o tamanho e o poder de suas agências e promoverem suas carreiras, ao mesmo tempo permitindo que aqueles fora do governo aumentassem o financiamento de seus projetos de pesquisa. Algumas pessoas podem estar pensando: “Mas eles gastam pilhas de dinheiro em anúncios antitabagistas”. Na verdade, os anúncios antitabagistas são pagos pelas taxas excessivas dos cigarros, sendo, portanto, pagas pelos próprios fumantes. Além disso, há incontáveis produtos feitos para ajudar as pessoas a parar de fumar, como patches** e gomas de mascar (inclusive um tipo de goma diferente para cada tipo de cigarro), assim como auxílio e tratamento pessoal. A guerra contra o tabagismo enche muitos bolsos de dinheiro.
O que é amplamente negligenciado, ignorado, ou apenas não conhecido, é a existência de um establishment de saúde bastante definido, às quais as organizações como o National Health Service (NHS) e a Cancer Research UK pertencem. Dentro desse establishment estão os pesquisadores e os cientistas que dependem de financiamento para essas pesquisas. Há agora um bandwagon, por assim dizer; em qualquer estudo antitabagista, é certeza haver recebido subsídios e publicidade. Portanto, um cenário mais amplo começou a surgir, e nós podemos ver que os cientistas e pesquisadores são, em sua maioria, impelidos a exuberar estudos antitabagistas, independentemente do quão fictícios eles pareçam. Aliás, há um vasto – e aumentando – corpo de evidências mostrando que o tabaco ajuda a prevenir o mal de Parkinson e Alzheimer, bem como tratar os sintomas da síndrome de Tourette; infelizmente, é preciso escavar um pouco para encontrar esses estudos.
Algumas pessoas acreditam que o tabaco tem sido examinado encobrindo-se várias coisas, pois o establishment ainda não tem uma resposta exata para o que causa o câncer. A idéia é plausível, e até mesmo provável. Na verdade, em 1952, a Sociedade Americana de Saúde, a ACS, estava frustrada por não haver cura conhecida para o câncer, nem mesmo uma causa, acusando o tabagismo com o fim de dar a entender à população que estava fazendo alguma coisa. Dr. Leroy E. Burney, cirurgião geral naquela época, apoiou a afirmação da ACS, dando maior difusão à idéia, dizendo: “A menos que o uso de tabaco seja seguro, os riscos individuais da pessoa de contrair câncer de pulmão podem ser melhor reduzidos com a eliminação do ato de fumar”⁵.
Outro pequeno porém relevante ponto a ser levantado é, basicamente, o que a proibição do fumo significa potencialmente – e o que significa as pessoas pararem de fumar. Enquanto o governo, a NHS e os grupos antitabagistas são ligeiros em dizer às pessoas os custos de entre £1.5 e £2.7 bilhões por ano em tratamento para fumantes, eles não são tão ligeiros em dizer às pessoas que os fumantes pagam mais de £9 bilhões em impostos de cigarros anualmente. Não é preciso um matemático para descobrir que nenhum governo desejaria perder essa quantia de dinheiro, e, como as coisas funcionam, quanto mais se perder dos impostos do tabaco, outros impostos deverão aumentar. As pessoas ficariam satisfeitas se as proibições estivessem mesmo funcionando e houvesse menos fumantes por aí, enquanto outros impostos subiriam? Eu, pelo menos, duvido.
Com relação ao que foi dito acima, é importante ter em mente que quando a NHS nos diz que os fumantes custam anualmente £1.5 bilhão, ela quer dizer que qualquer fumante que precisar de qualquer tipo de tratamento será categorizado como um detentor de doença relacionada ao tabagismo – quer o médico acredite ou não. De fato, o número de doenças relacionadas ao tabagismo compreende todos os que acreditem estar doentes pelo fumo; qualquer um, independentemente da doença, incluindo não-fumantes que convivem com fumantes, e qualquer pessoa que alegue estar exposta ao fumo passivo⁶.
Além disso, “doenças relacionadas ao tabagismo” é um termo terrivelmente enganoso, pois não há uma doença que afete apenas fumantes. Esse termo só poderia ser empregado a doenças que atingissem apenas a fumantes, ou, pelo menos, uma doença causada somente pelo ato de fumar. Não há como saber se uma pessoa teria contraído a mesma doença se ela não fumasse, o que faz com que, conseqüentemente, as estatísticas sejam enganosas. Dado o fato de que a estatística é o principal tipo de pesquisa empregado nesse meio, é arbitrário manter essa visão em mente. Uma coisa é dizer que 50% dos fumantes morrem de doenças relacionadas ao tabagismo, mas esse é um ponto irrelevante – estatísticas oficiais também dizem que fumar é “a causa de mais de um quarto (29%) de todas as mortes por câncer e matou um número estimado de seis milhões de pessoas nos últimos 50 anos”⁷. Isso quer dizer, obviamente, que 71% das mortes por câncer não foram causadas pelo ato de fumar, embora seja este o foco principal da pesquisa. Além do mais, a palavra “estimado” é um eufemismo para dizer “não-comprovado”, permitindo que aqueles que expõem as estatísticas criem qualquer número que desejem.
Permita-nos dar uma última olhada nas estatísticas oficiais do Cancer Research: “Atualmente, cerca de 1 a cada 4 adultos fumam na Grã-Bretanha. Homens ainda são mais propensos a fumar do que as mulheres (27% e 25%, respectivamente)”⁸. Contudo, o censo oficial mostra que, em 2001, havia 58.8 milhões de pessoas vivendo na Grã-Bretanha, dos quais 11.9 milhões tinham menos de 16 anos, restando 46.9 milhões de pessoas acima de 16 anos. Para fins de argumentação, iremos considerar essas pessoas acima de 16 anos como adultos e, mais uma vez para fins de argumentação, iremos supor que 50% delas são homens e 50% são mulheres. Isso significa que 23.45 milhões delas são homens e as outras 23.45 milhões são mulheres. 27% de 23.45 é igual a 6,331,500, e 25% é igual é 5,862,500. Juntando o total nos deixa com 12,194,000 fumantes no Reino Unido, ou 26% da população.
Usando as estatísticas acima, 26% da população adulta fuma, 12.19 milhões de pessoas, e aparentemente 50% dos fumantes morrem de câncer, no total de seis milhões. Se este for o caso, como é que apenas seis milhões de pessoas no Reino Unido morreram por causa do tabaco nos últimos cinqüenta anos, principalmente se a quantidade de fumantes diminuiu nesse mesmo meio tempo⁹? Evidentemente, algo está faltando. Claro, essas são apenas estatísticas do Cancer Research. Em 1990, Richard Peto – um pesquisador que trabalhou com Doll – afirmou que o fumo de cigarro foi responsável por 20% das mortes no Ocidente. O problema é que ou os números são muito baixos – mostrando que, com a quantidade de pessoas que fumam ou já fumaram, não há estatisticamente nenhum risco no hábito – ou eles são muito altos, mostrando que não há nada além da mais pura propaganda e manipulação. Ademais, seria de se esperar que os números fossem pelo menos vagamente semelhantes, mas não o são.
Tristemente, devido à "sabedoria popular" afirmar que fumar é prejudicial à saúde e que traz um forte risco de se contrair câncer, as pessoas passivamente aceitam isso. Contudo, não apenas há evidências em abundância de que essa sabedoria popular está errada, como também a história em si mostra isso. De primeiro, os médicos costumavam recomendar o ato de fumar – ou eles estavam errados antes, ou o estão agora; adicionalmente, o álcool foi proibido e depois permitido de novo. Não esqueçamos também que, antes dos anos 1900, era uma crença comum, ainda que ainda usemos hoje como uma brincadeira, que a masturbação causava cegueira. As pessoas irrefletidamente aceitavam isso e realmente acreditavam que a masturbação era uma prática arriscada, o que agora sabemos que não é verdade. Entretanto, nenhuma pessoa em sua sã consciência, especialmente médicos ou outros profissionais, teria dito algo contrário a essa crença, pois, se suas palavras influenciassem alguém a se masturbar e, acidentalmente, uma pessoa cegasse, a masturbação e o médico seriam culpados. Algumas pessoas também devem lembrar como, nas décadas de 70 e 80, os pais foram instruídos a colocar seus bebês para dormir de bruços, o que resultou em um enorme aumento no número de mortes prematuras.
Esses exemplos mostram que a sabedoria popular pode errar, guiando as pessoas em direção errada. A triste verdade é que, por ser repetido tantas vezes o mantra de que fumar é nocivo à saúde, as pessoas agora aceitam sem questionar ou pesquisar. Mesmo assim, a desinformação ou uma mentira repetida várias vezes ainda está errada; nunca a repetição fará algo verdadeiro.
Um argumento que freqüentemente ouço de antitabagistas, quando ouvem as evidências de que fumar não é danoso à saúde, é a acusação de que se tratam de propaganda da indústria de tabaco ou dos que recebem fundos dela, como o FORCES. Porém, o FORCES, e a maioria dos outros grupos defensores da liberdade de escolha, não recebe fundos de nenhuma organização. Além do mais, a maior parte das evidências usadas por esses grupos são na verdade os mesmos estudos usados para mostrar que o ato de fumar é prejudicial; eles apenas apontam o viés presente nos estudos ou os aspectos intencionalmente ocultados, etc. Em outras palavras, muitos estudos usados para mostrar que o ato de fumar é prejudicial foram ou podem ser revistos para mostrar que, na verdade, eles não fazem. Talvez a citação mais importante agora seja a de Winston Churchill, quando ele diz: “Uma mentira já está na metade do caminho antes que a verdade tenha a chance de vestir suas calças”.
Outro mantra inusitado repetido pelos antitabagistas é o de que o tabaco é o único produto no mundo que, quando usado como se destina, mata seus usuários. É incrível que eles tenham a imprudência de acreditar nisso, e mais incrível ainda é que as pessoas também acreditem nisso com convicção. Aparentemente, nenhuma dessas pessoas acreditam que acidentes de carros acontecem ao romperem-se os pneus, ou que pessoas que comem muito tornam-se obesas e morrem (afinal, elas consumiram comida tal como lhes foi destinada: comendo-as), ou consumindo muito álcool, ou, mais surpreendentemente, entorpecentes.
Título original: Introduction: Where It All Began
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N.T.
* Outros capítulos do livro serão publicados aqui o tão logo possível.
** Pensos transdérmicos de nicotina, comuns no exterior.
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1. http://www.youtube.com/watch?v=gCMzjJjuxQI
2. http://info.cancerresearchuk.org/healthyliving/smokingandtobacco/howdoweknow/
3. http://info.cancerresearchuk.org/news/archive/pressreleases/2004/june/38863
4. http://info.cancerresearchuk.org/healthyliving/smokeispoison/?a=5441
5. http://legacy.library.ucsf.edu/tid/cmq36b00/pdf
6. Levy, R; Marimont, R (1998) Lies, Damn Lies & 400,000 Smoking-Related Deaths
7. http://info.cancerresearchuk.org/cancerstats/causes/lifestyle/tobacco/
8. Ibid
9. Ibid
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